Por Memória Globo

Acervo/Globo

Renato Aragão em 'Os Trapalhões'. — Foto: Acervo/Globo

Didi (Renato Aragão) – Renato Aragão era o menos famoso do elenco de 'Adoráveis Trapalhões', mas logo se tornou um dos destaques do programa. Fazia parte da equipe de redatores e roubava as cenas na pele de um cearense ao mesmo tempo simplório e malandro, excêntrico e desastrado, quase um encontro do personagem vagabundo de Chaplin com Oscarito, dois de seus heróis. O tipo, que entraria para o imaginário do telespectador durante décadas era ninguém menos do que Didi Mocó Sonrisélpio Colesterol Novalgino Mufumbo, ou apenas Didi Mocó. O personagem havia sido batizado quando Renato Aragão iniciou a carreira, na TV Ceará. Ele conta que sua única inspiração para o nome foi a sonoridade das sílabas repetidas que lhe soavam simples e engraçadas. Já o sobrenome surrealista surgiu tempos depois, durante um esquete apresentado ao vivo no programa 'A, e, i, o… Urca,' na TV Tupi, no Rio de Janeiro. Na cena em questão, Renato Aragão fazia um retirante nordestino que era submetido a uma entrevista de emprego na cidade grande. Durante o esquete, o ator que fazia o papel de entrevistador resolveu perguntar, de improviso, qual era o sobrenome do personagem. Pego de surpresa, o comediante não teve alternativa a não ser inventar a coisa mais estapafúrdia que lhe veio à cabeça, brincando com nomes de remédios (Sonrisal e Novalgina), uma espécie de preá (o mocó), um arbusto muito comum no Ceará (o mufumbo) e até um lipídio (o colesterol). A plateia veio abaixo e o nome pegou. Renato Aragão passou a ser Didi aos olhos do público mesmo fora do vídeo.

Renato Aragão em 'Os Trapalhões' — Foto: Acervo/Globo

Várias das expressões que Didi proferia espontaneamente em Adoráveis Trapalhões se tornavam bordões instantâneos adotados prontamente pelo público no dia seguinte. Como o programa era ao vivo, muitos desses bordões eram inventados de improviso, no palco. Um dia, Ivon Cury deixara cair acidentalmente a peruca durante um esquete. Numa mistura de gozação e homenagem ao colega de cena, Didi repetiria anos a fio, pelas várias emissoras de TV por onde passaria, a exclamação “Pelas perucas de Ivon Cury!” toda vez em que quisesse demonstrar espanto diante de uma situação. Renato Aragão criava bordões com extrema facilidade usando expressões já existentes como “som na caixa!” ou simplesmente inventando coisas como “audácia da pilombeta!”. Expressões como “é fria!” (encrenca); “bufunfa” (dinheiro), “poupança” (traseiro), “tesouro” ou “bicho bom” (mulher bonita) se tornaram gírias que são repetidas desde então. Quando desconfiava de que alguém era homossexual, ele costumava dizer: “Esse aí camufla! Ele escamoteia!”, já “rapaz alegre” era quem camuflava. Nas brigas, Didi provocava as pessoas com a expressão “A santa tá nervosa!” e brincava de hipnotizar: “Eu vou te popotizar!”. Didi também se comunicava diretamente com o telespectador do programa chamando-o de “o da poltrona” ou simplesmente de “psit”. Renato Aragão criou ainda gestos que se pode chamar, com alguma liberdade poética, de “bordões visuais”, como o de passar a mão sobre a boca e depois estalar os dedos no ar, como quem recolhe um beijo e o sapeca no espaço. Um gesto positivo, de confiança dirigido à câmera e, portanto, ao telespectador, que sintetizava o que outro dos bordões de Didi dizia em três palavras: “aguarde e confie”. O estilo inconfundível de Didi virou mania entre crianças. O personagem desfilava usando gravatas enormes – geralmente com o desenho de uma mulher – e uma luva enfiada na cabeça representando a crista de um galo.

Dedé Santana em 'Os Trapalhões'. — Foto: Acervo/Globo

Dedé (Dedé Santana) – Em 1971, Renato Aragão foi contratado pela TV Record para criar uma atração similar aos 'Adoráveis Trapalhões', batizada de Os Insociáveis. Seu parceiro dessa vez era Manfried Santana, o Dedé, comediante carioca com quem ele já havia trabalhado em 1965 no programa Didi & Dedé, da TV Excelsior, e no filme 'Na onda do Iê Iê Iê', dirigido por Aurélio Teixeira. Assim nasceu a parceria que alcançou o sucesso em 'Os Trapalhões', da Globo, anos depois. Nascido em Niterói, filho de artistas de circo e criado no picadeiro, Dedé era ótimo nas cenas que exigiam feitos acrobáticos, bastante recorrentes nos esquetes do programa que incorporavam muitos elementos circenses e da comédia pastelão. Como personagem, ele personificava o amigo boa-pinta e autoconfiante, que se achava muito mais bonito e inteligente do que realmente era. Uma espécie de “galã ridículo”, como o próprio se denominava. Era o contraponto perfeito ao estilo falso ingênuo de Didi e o que os humoristas chamam de “escada”, aquele que prepara a piada para o colega de cena.

Antônio Carlos Bernardes Gomes no programa Os Trapalhões — Foto: Acervo/Globo

Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) – O programa 'Os Insociáveis' da TV Record, que estreou em 1971, teria uma hora de duração e Renato Aragão achava que apenas sua dupla com Dedé não teria fôlego para segurar um programa inteiro. Eles precisavam se tornar um trio. Assistindo a um quadro de um programa de Chico Anysio que contava com a participação do grupo Originais do Samba, o comediante havia ficado impressionado com um dos integrantes, um negro de cabeça raspada que tocava reco-reco e que ele definiu como sendo “alegria viva”. Foi assim que Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, foi convidado para se juntar a eles. Mussum era o malandro do grupo. Carioca nascido no morro da Mangueira, era orgulhoso de ser negro e doido por cachaça, que chamava singelamente de “mé”. Ainda nos tempos dos Originais do Samba, ele havia participado do programa de humor 'Bairro Feliz,' da Globo, em 1965. Na época, ainda servia ao Exército e tinha que se apresentar escondido para não ser reconhecido pelos superiores que não aprovavam sua carreira de comediante. Foi no Bairro Feliz que ganhou de Grande Otelo o apelido de “Mussum” – um peixe preto, sem escamas –, porque se apresentava sempre barbeado e com a cabeça raspada. Em 1967, Mussum foi um dos alunos da Escolinha do Professor Raimundo, na época exibida pela TV Tupi. Foi lá que criou, aconselhado pelo redator Roberto Silveira, o jeito de falar que se tornaria sua marca registrada ao pronunciar todas as palavras com a sílaba “is” no final, dizendo coisas como “Portuguesis” ou “Aritmetiquis”. Mussum eternizou bordões que ficaram famosos em Os Trapalhões. Ele usava a palavra inglesa “forever” – que significa “para sempre” em português – para designar várias coisas, em especial o traseiro. Pronunciada à sua maneira peculiar, a palavra se tornava “forévis”. Outros sucessos de Mussum eram as expressões “Ai, Cacildis!”, pronunciada quando alguma coisa dava errado, e “Eu quero morrer pretis!”, seu juramento.

Mauro Gonçalves em 'Os Trapalhões'. — Foto: Acervo/Globo

Zacarias (Mauro Gonçalves) – Em 1973, Didi, Dedé e Mussum, foram contratados pela TV Tupi para estrear um programa com três horas de duração, que teria o mesmo nome com o qual passaram a se apresentar: Os Trapalhões. Programa novo, nova identidade. Renato Aragão decidiu que novamente era a hora de convocar um novo integrante. Convidou, então, um comediante da própria TV Tupi que interpretava um garçom meio caipira no humorístico Café Sem Concerto: o mineiro Mauro Faccio Gonçalves. Batizado de Zacarias em homenagem a um galo com quem Renato Aragão havia “contracenado” no passado, ele encarnava um personagem meigo e matuto, com uma voz infantilizada que fazia sucesso entre as crianças. Zacarias era careca e usava uma peruca em cena. Uma das gracinhas favoritas dos outros Trapalhões era arrancá-la sem aviso durante o programa.

Os Trapalhões: Sargento Pincel (1988)

Os Trapalhões: Sargento Pincel (1988)

  • O soldado vivido por Didi no quartel era chamado pelo invocado Sargento Pincel (Roberto Guilherme) de “49”. Outros participantes do quartel eram Jorge Lafond e Tião Macalé, com o bordão “ô, crioula difícil! Tchan!”.
  • Carlos Kurt interpretava um vilão fortão, mal-humorado, louro e de olhos esbugalhados que se opunha ao quarteto de protagonistas.
  • Em vários episódios, 'Os Trapalhões' satirizavam os super-heróis clássicos e se revezavam como Super-Homem, Batman, Robin, Homem-Aranha e Mulher Maravilha.
  • Nos anos 80, dois personagens foram imortalizados por Renato Aragão em 'Os Trapalhões': Ananias, o anão de cabelos louros e cacheados, e Aparício, o pobretão azarado que obedecia a tudo que o narrador falava.

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